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quarta-feira, 10 de agosto de 2022
texto de Carolina da news Vou te Falar. Link ao final do texto
“Essas aqui são as suas raízes”, disse a minha mãe, enquanto andávamos pelo Bom Retiro. Era uma quinta-feira de sol e estávamos junto com minha avó. Toda quinta-feira, elas trabalham como voluntárias numa instituição que alimenta pessoas carentes. Aquele dia tive o privilégio de poder ajudá-las. Havíamos acabado de terminar o turno do almoço e voltávamos a pé para o escritório dela.
Minha mãe cresceu e trabalha no Bom Retiro. Aquele é o lugar dela. Eu, por outro lado, não consigo chegar até a José Paulino sem antes abrir o Google Maps.
Eu não ando com a naturalidade dela por lá. Não sei como chegar no Buraco da Sara e nem o caminho para o Viena kasher. Conheço todas as histórias do Pletzale, como foi o ponto de encontro de tantos imigrantes judeus e sobreviventes do Holocausto e agora é de seus filhos e netos. Mas se passo na frente, não sei se tem alguma mesa onde não possa sentar, que já tem donos cativos. Não tenho as minhas histórias, os meus lugares no bairro. Repito as receitas da minha mãe, sigo os passos dela. Eu não pertenço.
Começo a pensar na distância que criamos das nossas raízes. Tenho com o Bom Retiro apenas uma conexão emocional. Adoro conhecer a São Paulo da minha mãe e da minha avó. Ouvir as histórias delas sobre a carroça do meu bisavô, o cavalo, a escola, os bailes. Sobre como a comunidade ashkenazi de São Paulo frequentava a antiga sinagoga da Newton Prado, como a rua toda ficava lotada durante a celebração do Yom Kippur.
Mas o contraste com a minha vida é imediato e serve como lembrete: aquela não é a minha história. Se minha vida fosse um livro, aquelas cenas fariam parte apenas do prólogo. Volto para casa com a sensação estranha de não pertencer ao lugar onde estão as minhas raízes.
Minha São Paulo é outra. É a das padarias dos Jardins e do Parque do Ibirapuera. Pegar o carro todo domingo cedo para ir passar o dia no sítio que meu avô montou com os amigos em Itapecerica da Serra. É a das manhãs na piscina no clube e almoços no Iguatemi. Dos cinemas na Paulista, do Frevinho e dos bares da Vila Madalena. Aprender a andar de bicicleta na Cidade Universitária e estudar para as provas de Jornalismo no Pátio da Cruz, lá na PUC.
Há alguns meses, passei na estrada de Itapecerica e tentei achar o lugar do sítio. Impossível. O local estava completamente transformado depois de quase três décadas – deve ter virado mais um conjunto de prédios. No entanto, uma parte de mim ainda está lá catando limões com a minha prima para preparar a limonada do almoço. Esperando o meu pai terminar o jogo de tênis para ir brincar com ele na piscina e comer a linguiça de aperitivo que o amigo do meu avô sempre levava.
As minhas raízes estão espalhadas por esta cidade. Carrego em algum lugar as raízes dos meus pais e avós, mas elas servem mais como um lembrete: a sua história também passou por aqui. Mas a minha relação histórica e afetiva com São Paulo é outra. Está em cada pracinha onde fui namorar escondido, nas calçadas de todas as escolas onde estudei, nas esquinas d os prédios onde morei. O Bom Retiro faz parte desse rizoma – e entendo que posso ter com ele uma relação diferente. Não pertenço, mas ele mora de alguma forma dentro de mim.
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terça-feira, 9 de agosto de 2022
namorar
sexta-feira, 5 de agosto de 2022
perguntas profundas demais que o vetor brasil me fez pensar sobre e só me deu 500 caracteres de espaço para responder
eu realmente acredito que sou um conjunto de experiências e que meu processo de autoconhecimento me guia de forma muito intuitiva pelos ciclos da minha vida, sejam eles pessoais ou profissionais. Minha trajetória até este momento, trabalhando numa Secretaria Municipal de Infraestrutura, discutindo políticas públicas com conselhos e órgãos de diversas esferas e aplicando diariamente conceitos de gestão pública no que desenvolvo, mostra que na verdade tudo isso é o fruto do que eu fui cultivando ao longo da minha vida. Acredito que meu interesse pela Arquitetura e Urbanismo começou desde muito pequena quando eu me distraia nas aulas da escola desenhando cidades, pontes, prédios e casinhas. Eu sempre fui muito observadora então na pré-adolescência eu passava horas em sites de construtoras vendo a planta baixa de apartamentos dos prédios aqui pela minha cidade que me encantavam, extremamente curiosa para entender como foram pensadas as divisões e fluxos dentro daquelas torres.
Esse olhar atento e curiosidade me fez cultivar bastante interesse pela fotografia das casas e espaços públicos do bairro que moro até hoje e também pela escrita, tanto que na época de vestibular eu fiquei em dúvida sobre as graduações de Arquitetura e Urbanismo ou Jornalismo. Acredito que essas duas paixões nunca se separaram, de forma que tive e ainda mantenho alguns blogs e, em 2015, cheguei a criar uma página em uma rede social para postar fotografias sobre o meu bairro e expor minha vivência enquanto moradora deste lugar. A influência desse bairro na minha trajetória foi bastante relevante de tal maneira que, o Bairro São José, acabou se tornando o meu objeto de estudo no Trabalho de Conclusão de Curso que apresentei e que foi muito bem recebido pela banca, na qual fui aprovada com nota máxima. Esse trabalho abordou a escala de bairro e buscou entender o esvaziamento residencial deste bairro, quais os mecanismos impulsionadores desse movimento e, através de diretrizes por meio de políticas públicas apresentei possíveis estratégias para atenuar a saída de moradores. Eu sinto que minha sensibilidade e receptividade com quase tudo que desconheço sejam algumas das minhas grandes fortalezas. Elas me levam a lugares incríveis, de muito aprendizado e reflexão sobre meu propósito e como isso pode contribuir para a construção de melhores futuros para todos, uma vez que me encanta estudar e entender as cidades nas suas diversas escalas.
Numa era onde tudo é muito rápido e as demandas parecem ser pra ontem, eu percebo que sou fruto de uma geração que é marcada pela pressa e quantidade de estímulos onde, contraditoriamente, isso pode ser paralisante de tal forma que eu preciso desenvolver a paciência e a escuta ativa a fim de compreender e explicar melhor os processos. Além disso, aprender a lidar com as possíveis frustrações que acontecem em cenários da vida profissional e ter uma comunicação cada vez mais clara e assertiva com minha equipe.
o que te motiva a trabalhar no setor público? Como você acredita que o vetor brasil e nossos programas dialogam com o seu momento de vida e motivações futuras?
Eu realmente acredito no poder transformador das políticas públicas quando bem aplicadas. Acredito que boas gestões, gestões mais inclusivas, mais circulares, mais construtivas e mais pacificas têm o poder de transformar nossa sociedade e nossas cidades. O Brasil é um país com muitas demandas dos mais diversos tipos, é um país com muita desigualdade e que passa por uma fase difícil, eu poderia até dizer desestruturante no sentido de governança, mas que isso não define as gestões municipais brasileiras como um todo. A gestão da secretaria onde estou atualmente tem dado muita abertura para o diálogo com diversas frentes e um bom líder realmente consegue abordar o propósito como elemento chave para a produtividade da sua equipe. É isso que tenho visto e que me dá muita esperança, sinto que o Vetor Brasil conseguiria expandir ainda mais essa minha energia, me capacitaria e me ajudaria a desenvolver ainda mais habilidades para o desempenho do meu trabalho, me dando oportunidade de ter contato com outras frentes da gestão pública.