Eu me mudo.
Muito.Um dia achei que me mudava de casa todo ano porque, na real, queria mudar de vida. Só não sabia como.
Mas aí eu mudei de vida. E continuo me mudando de casa todo ano.
Eu me mudo.
Mudo de aparência, corto, pinto, troco a roupa.
Mas a cara no espelho continua minha (diferente de Nando). Nesta só o tempo atua. E o tempo tem o tempo dele que quase nunca é o meu.
Eu me mudo.
Enjoo da minha própria personalidade e tento ser outra.
Aproveito novas casas, novas caras, pra tentar ser uma nova eu. Busco ser mais calma, falar menos, falar baixo, não fazer tanta piada, não me importar tanto com o outro e não revelar tanto de mim no primeiro oi.
Só não dura muito, no máximo o tempo de um próximo corte.
Eu me mudo. Eu me mudo o tempo todo e achava que se mudar era apenas um sinônimo para trocar de residência. Sair de uma casa e entrar em outra. Encaixotar objetos como quem guarda histórias, escolhendo quais memórias merecem seguir e quais deveriam ser descartadas.
Num desejo profundo de que o inconsciente funcionasse da mesma maneira e só lembrasse do que valesse a pena ser lembrado, ou daquilo que não dói, ou do que orgulha e não envergonha.
Mas lembro que digo que ME mudo. Numa ação direta e consciente de mudança.
Eu me mudo querendo ter o controle sobre a impermanência, sobre o inesperado, como se possível fosse. Eu me mudo pra poder sentir a possibilidade de mudar por escolha, por desejo, e não como uma ação da natureza, não por sobrevivência, tal qual uma iguana que muda de cor ou uma cobra que muda de pele. Me mudo para me sentir tão humana e me distanciar do intuitivo. Tão, mas tão humana a ponto de ignorar os instintos, a sensibilidade, de pensar demais e de achar, tal qual os tão tão humanos, que tenho poder de ação sobre tudo.
Eu ME mudo.
Eu me mudo pra assim me permanecer tão previsivelmente a mesma.
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