Relacionamento bem-sucedido é aquele onde gosto da pessoa que eu sou quando estou com a outra pessoa.
O pior relacionamento é aquele que me transforma em alguém que não quero ser.
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Lúcia me amava muito, mas achava que “não dava para viver de amor em uma cabana” e que eu tinha que investir mais na minha carreira de consultor de internet e menos nessas “besteiras” (ela jamais seria boba de usar esse termo, mas estava implícito) de literatura.
Eu poderia dizer que ela amava uma pessoa que não existia, uma projeção, etc, mas seria uma inverdade e uma injustiça. O homem que ela amava existia mesmo e foi a pessoa que vesti por muito tempo. Por oito anos, fui dono de minha própria consultoria de internet e trabalhei com algumas das maiores corporações do Brasil: Vivo, Embratel, Petrobrás, Banco do Brasil, etc.
Mas não era o homem que eu queria ser.
(Nem nunca foi: abri a empresa com minha amiga, a artista plástica Isabel Löfgren, e o objetivo da empresa para nós sempre foi nos possibilitar viver nossas vidas de artistas.)
Porém, a cada vez que eu fazia menção de tentar ser mais a pessoa que eu queria ser, Lúcia resistia, pois eu estava sendo menos a pessoa que ela amava e nada é mais compreensível e bonito do que lutar pela pessoa que se ama.
Ela me ajudou a perceber que relacionamento bem-sucedido é aquele onde eu gosto de ser a pessoa que a outra ama.
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Lúcia era uma pessoa incrível, que eu amei pelos mais numerosos motivos. Mas reparem que o texto praticamente não fala dela.
Porque a verdade é que a pessoa que ela era não faz diferença.
Nosso primeiro e mais importante e mais permanente relacionamento é com nós mesmas.
Se eu não estou bem comigo mesmo, se não sou a pessoa que quero ser, se não estou em sintonia com meus próprios sonhos, vontades, anseios, então não existe, de fato, ninguém aqui para amar essa outra pessoa ali.
Se eu não quero ser a pessoa que a outra ama… então, o relacionamento não tem chance.
Independente da pessoa incrível que ela seja.
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Lúcia e eu nos amamos por cinco anos. Foi o relacionamento mais longo da minha vida. Quando tomei a iniciativa de terminar, doeu uma dor que eu não acreditava ser possível. Sofri por dois anos, dois longos anos.
De repente, em lugares públicos, eu desabava, começava a chorar e chamava, gritava por ela. Chorei por ela no French Quarter, em Nova Orleans, no Parque das Nações, em Lisboa, no Parlamento Nacional, em Dili, no Timor-Leste. Marquei o mundo com minhas lágrimas como um cachorro marca a vizinhança com seu mijo.
(Desses 24 meses de choro, 18 foram passados longe do Rio, minha época de mais saudade de casa, o que seguramente só piorou o meu estado emocional.)
Aí, foi passando e, um dia, passou. Como passaremos todas, como passará tudo.
E, quando passarmos, a questão que sobrará é: conseguimos ser as pessoas que queríamos ser?
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