o que é meu
sábado, 29 de outubro de 2022
amor?
não entendo como tudo bate de uma forma estranha as vezes
como se eu odiasse tudo ao redor
parece que os momentos bons são tão poucos
parece que eu não consigo ver beleza em nada
eu não sei
eu não sei porque é tão difícil me entender
porque é tão difícil estar longe
porque é tão difícil aceitar alguém tão perto de mim
eu vejo muitas diferenças sim
mas também vejo muito carinho
eu sinto que realmente não tenho paciência
pra cuidar de alguém tão de perto
eu não sei se é isso mesmo, se é assim mesmo
se faz sentido
eu não quero ficar longe
mas também não consigo lidar com meus altos e baixos
quinta-feira, 20 de outubro de 2022
do que eu sinto orgulho
o que me orgulha em alguém?
o que me faz admirar alguém?
eu sinto que me pego muito seguindo uma estrutura muito específica de admiração pelo sucesso e reconhecimento profissional e repito isso em tudo. em todas as minhas relações. eu me perdi me desculpa
eu te admiro, eu tenho orgulho de você em tanto aspectos minuciosos e brilhantes que só alguém com muito amor consegue ter e oferecer. parece que você é feito disso e parece que eu sou pura pedra e secura e tudo que é amor demonstração de carinho me afeta, me incomoda. eu sinto incômodos pelo seu jeito de cuidar de mim e de todo mundo e ao mesmo tempo isso é o que mais admiro em você. isso é lindo, de verdade. a forma como você consegue manter as pessoas perto de si diz muito sobre você, a forma como você é leve e tranquilo. é difícil me desvincular disso ao mesmo tempo que eu constantemente vejo diferenças que me fazem repensar o relacionamento o tempo todo. na verdade a constância me incomoda, eu não entendo bem a razão, se é alguma ansiedade generalizada ou se é alguma característica minha. eu sei que tenho fases bem claras mas não definidas com início meio e fim. eu gosto de conversas difíceis, eu gosto do desafio de se entender e dar nome as coisas. eu amo o processo de autoconhecimento.
me desculpa
me desculpa por ser tão sem filtro, por ter um impulso grande de machucar com intenção e me arrepender logo depois. eu realmente não entendo esse instinto mas parte de um dor. um dor um incomodo que me gera uma raiva e uma falta de tato pra lidar com o outro. tudo me incomoda e eu reajo de forma dolorida com intenção de fazer sangrar. confesso que não há nada nesse instinto que eu me orgulhe, eu realmente não queria ser assim, mas me avisaram que construir relacionamentos longos é um pouco disso também, desse medo, inconstância e descoberta de lados sombrios do outro.
eu não vejo só os seus defeitos, não mesmo. eu vejo tanta coisa, tanta coisa boa. mas de forma geral ta gente sempre vê mais as coisas ruins do que as boas então não vejo nada de muito espantoso nisso, é só algum tipo de mecanismo mesmo. não quero te deixar triste mesmo já sentindo que foi o que fiz com nós 2. não houve intenção, apenas chegou onde chegou e doeu. você é maravilhoso, companheiro, cuida, ama, ta comigo pra tudo, atencioso, ajuda a todos e sinto que perder isso me faz me sentir sozinha porque sinto que não consigo ter esse suporte todo dos meus amigos. eu gostaria de me sentir mais conectada com meus amigos, mas sinto que muito da minha energia está com você, no seu círculo, nas suas vivências, nos seus amigos. eu não sei muito bem porque minha sensação é de peso. é de estar levando, de guiar tudo e eu sinto um cansaço as vezes
segunda-feira, 10 de outubro de 2022
afogando
até tudo que que queria dar conta de ler pelo email e até mesmo o livro físico, eu não estou dando conta
a mina pergunta se volta pra mim mesma no sentindo de entender porque tanta demanda
do nada eu me vi assinando tantas news legais cheias de textos legais
e eu simplesmente não consigo dar conta do tanto de texto bem escrito, do tanto de dica legal. eu simplesmente não sinto mais uma grande culpa de apagar algumas news sem ler, talvez um pecado..
enfim sinto falta de simplesmente não ler nada. a sensação dentro em monte de palavras é de
afogar de forma que eu não consigo escrever mais. Eu sinto falta de escrever a mão também, uma rotina que já foi um hábito muito natural e leve que só acontecia.
e agora eu me sinto afogada em tanto de tanta gente incrível que compartilha coisas incríveis e eu vejo e penso "eu poderia fazer isso, escrever assim, eu sinto desse mesmo jeito"
e só de pensar em começar a escrita me vem a falta de tudo, o branco no papel e na tela.. como se eu não soubesse por onde começar e eu tenho sentido TANTO que não existe isso de não ter o que escrever. na verdade acho que ta tão acumulado por tanto tempo que eu não sei por onde começar a organizar tudo.
texto de Alex Castro
Relacionamento bem-sucedido é aquele onde gosto da pessoa que eu sou quando estou com a outra pessoa.
O pior relacionamento é aquele que me transforma em alguém que não quero ser.
* * *
Lúcia me amava muito, mas achava que “não dava para viver de amor em uma cabana” e que eu tinha que investir mais na minha carreira de consultor de internet e menos nessas “besteiras” (ela jamais seria boba de usar esse termo, mas estava implícito) de literatura.
Eu poderia dizer que ela amava uma pessoa que não existia, uma projeção, etc, mas seria uma inverdade e uma injustiça. O homem que ela amava existia mesmo e foi a pessoa que vesti por muito tempo. Por oito anos, fui dono de minha própria consultoria de internet e trabalhei com algumas das maiores corporações do Brasil: Vivo, Embratel, Petrobrás, Banco do Brasil, etc.
Mas não era o homem que eu queria ser.
(Nem nunca foi: abri a empresa com minha amiga, a artista plástica Isabel Löfgren, e o objetivo da empresa para nós sempre foi nos possibilitar viver nossas vidas de artistas.)
Porém, a cada vez que eu fazia menção de tentar ser mais a pessoa que eu queria ser, Lúcia resistia, pois eu estava sendo menos a pessoa que ela amava e nada é mais compreensível e bonito do que lutar pela pessoa que se ama.
Ela me ajudou a perceber que relacionamento bem-sucedido é aquele onde eu gosto de ser a pessoa que a outra ama.
* * *
Lúcia era uma pessoa incrível, que eu amei pelos mais numerosos motivos. Mas reparem que o texto praticamente não fala dela.
Porque a verdade é que a pessoa que ela era não faz diferença.
Nosso primeiro e mais importante e mais permanente relacionamento é com nós mesmas.
Se eu não estou bem comigo mesmo, se não sou a pessoa que quero ser, se não estou em sintonia com meus próprios sonhos, vontades, anseios, então não existe, de fato, ninguém aqui para amar essa outra pessoa ali.
Se eu não quero ser a pessoa que a outra ama… então, o relacionamento não tem chance.
Independente da pessoa incrível que ela seja.
* * *
Lúcia e eu nos amamos por cinco anos. Foi o relacionamento mais longo da minha vida. Quando tomei a iniciativa de terminar, doeu uma dor que eu não acreditava ser possível. Sofri por dois anos, dois longos anos.
De repente, em lugares públicos, eu desabava, começava a chorar e chamava, gritava por ela. Chorei por ela no French Quarter, em Nova Orleans, no Parque das Nações, em Lisboa, no Parlamento Nacional, em Dili, no Timor-Leste. Marquei o mundo com minhas lágrimas como um cachorro marca a vizinhança com seu mijo.
(Desses 24 meses de choro, 18 foram passados longe do Rio, minha época de mais saudade de casa, o que seguramente só piorou o meu estado emocional.)
Aí, foi passando e, um dia, passou. Como passaremos todas, como passará tudo.
E, quando passarmos, a questão que sobrará é: conseguimos ser as pessoas que queríamos ser?
quarta-feira, 10 de agosto de 2022
news legais
https://invasoesgermanicas.substack.com/p/-59-o-amor-proprio-como-revolucao?utm_source=email
texto de Carolina da news Vou te Falar. Link ao final do texto
“Essas aqui são as suas raízes”, disse a minha mãe, enquanto andávamos pelo Bom Retiro. Era uma quinta-feira de sol e estávamos junto com minha avó. Toda quinta-feira, elas trabalham como voluntárias numa instituição que alimenta pessoas carentes. Aquele dia tive o privilégio de poder ajudá-las. Havíamos acabado de terminar o turno do almoço e voltávamos a pé para o escritório dela.
Minha mãe cresceu e trabalha no Bom Retiro. Aquele é o lugar dela. Eu, por outro lado, não consigo chegar até a José Paulino sem antes abrir o Google Maps.
Eu não ando com a naturalidade dela por lá. Não sei como chegar no Buraco da Sara e nem o caminho para o Viena kasher. Conheço todas as histórias do Pletzale, como foi o ponto de encontro de tantos imigrantes judeus e sobreviventes do Holocausto e agora é de seus filhos e netos. Mas se passo na frente, não sei se tem alguma mesa onde não possa sentar, que já tem donos cativos. Não tenho as minhas histórias, os meus lugares no bairro. Repito as receitas da minha mãe, sigo os passos dela. Eu não pertenço.
Começo a pensar na distância que criamos das nossas raízes. Tenho com o Bom Retiro apenas uma conexão emocional. Adoro conhecer a São Paulo da minha mãe e da minha avó. Ouvir as histórias delas sobre a carroça do meu bisavô, o cavalo, a escola, os bailes. Sobre como a comunidade ashkenazi de São Paulo frequentava a antiga sinagoga da Newton Prado, como a rua toda ficava lotada durante a celebração do Yom Kippur.
Mas o contraste com a minha vida é imediato e serve como lembrete: aquela não é a minha história. Se minha vida fosse um livro, aquelas cenas fariam parte apenas do prólogo. Volto para casa com a sensação estranha de não pertencer ao lugar onde estão as minhas raízes.
Minha São Paulo é outra. É a das padarias dos Jardins e do Parque do Ibirapuera. Pegar o carro todo domingo cedo para ir passar o dia no sítio que meu avô montou com os amigos em Itapecerica da Serra. É a das manhãs na piscina no clube e almoços no Iguatemi. Dos cinemas na Paulista, do Frevinho e dos bares da Vila Madalena. Aprender a andar de bicicleta na Cidade Universitária e estudar para as provas de Jornalismo no Pátio da Cruz, lá na PUC.
Há alguns meses, passei na estrada de Itapecerica e tentei achar o lugar do sítio. Impossível. O local estava completamente transformado depois de quase três décadas – deve ter virado mais um conjunto de prédios. No entanto, uma parte de mim ainda está lá catando limões com a minha prima para preparar a limonada do almoço. Esperando o meu pai terminar o jogo de tênis para ir brincar com ele na piscina e comer a linguiça de aperitivo que o amigo do meu avô sempre levava.
As minhas raízes estão espalhadas por esta cidade. Carrego em algum lugar as raízes dos meus pais e avós, mas elas servem mais como um lembrete: a sua história também passou por aqui. Mas a minha relação histórica e afetiva com São Paulo é outra. Está em cada pracinha onde fui namorar escondido, nas calçadas de todas as escolas onde estudei, nas esquinas d os prédios onde morei. O Bom Retiro faz parte desse rizoma – e entendo que posso ter com ele uma relação diferente. Não pertenço, mas ele mora de alguma forma dentro de mim.
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