quarta-feira, 10 de agosto de 2022

news legais

 https://invasoesgermanicas.substack.com/p/-59-o-amor-proprio-como-revolucao?utm_source=email

texto de Carolina da news Vou te Falar. Link ao final do texto

 “Essas aqui são as suas raízes”, disse a minha mãe, enquanto andávamos pelo Bom Retiro. Era uma quinta-feira de sol e estávamos junto com minha avó. Toda quinta-feira, elas trabalham como voluntárias numa instituição que alimenta pessoas carentes. Aquele dia tive o privilégio de poder ajudá-las. Havíamos acabado de terminar o turno do almoço e voltávamos a pé para o escritório dela.

Minha mãe cresceu e trabalha no Bom Retiro. Aquele é o lugar dela. Eu, por outro lado, não consigo chegar até a José Paulino sem antes abrir o Google Maps.

Eu não ando com a naturalidade dela por lá. Não sei como chegar no Buraco da Sara e nem o caminho para o Viena kasher. Conheço todas as histórias do Pletzale, como foi o ponto de encontro de tantos imigrantes judeus e sobreviventes do Holocausto e agora é de seus filhos e netos. Mas se passo na frente, não sei se tem alguma mesa onde não possa sentar, que já tem donos cativos. Não tenho as minhas histórias, os meus lugares no bairro. Repito as receitas da minha mãe, sigo os passos dela. Eu não pertenço.

Começo a pensar na distância que criamos das nossas raízes. Tenho com o Bom Retiro apenas uma conexão emocional. Adoro conhecer a São Paulo da minha mãe e da minha avó. Ouvir as histórias delas sobre a carroça do meu bisavô, o cavalo, a escola, os bailes. Sobre como a comunidade ashkenazi de São Paulo frequentava a antiga sinagoga da Newton Prado, como a rua toda ficava lotada durante a celebração do Yom Kippur.

Mas o contraste com a minha vida é imediato e serve como lembrete: aquela não é a minha história. Se minha vida fosse um livro, aquelas cenas fariam parte apenas do prólogo. Volto para casa com a sensação estranha de não pertencer ao lugar onde estão as minhas raízes.

Minha São Paulo é outra. É a das padarias dos Jardins e do Parque do Ibirapuera. Pegar o carro todo domingo cedo para ir passar o dia no sítio que meu avô montou com os amigos em Itapecerica da Serra. É a das manhãs na piscina no clube e almoços no Iguatemi. Dos cinemas na Paulista, do Frevinho e dos bares da Vila Madalena. Aprender a andar de bicicleta na Cidade Universitária e estudar para as provas de Jornalismo no Pátio da Cruz, lá na PUC.

Há alguns meses, passei na estrada de Itapecerica e tentei achar o lugar do sítio. Impossível. O local estava completamente transformado depois de quase três décadas – deve ter virado mais um conjunto de prédios. No entanto, uma parte de mim ainda está lá catando limões com a minha prima para preparar a limonada do almoço. Esperando o meu pai terminar o jogo de tênis para ir brincar com ele na piscina e comer a linguiça de aperitivo que o amigo do meu avô sempre levava.

As minhas raízes estão espalhadas por esta cidade. Carrego em algum lugar as raízes dos meus pais e avós, mas elas servem mais como um lembrete: a sua história também passou por aqui. Mas a minha relação histórica e afetiva com São Paulo é outra. Está em cada pracinha onde fui namorar escondido, nas calçadas de todas as escolas onde estudei, nas esquinas d os prédios onde morei. O Bom Retiro faz parte desse rizoma – e entendo que posso ter com ele uma relação diferente. Não pertenço, mas ele mora de alguma forma dentro de mim.



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terça-feira, 9 de agosto de 2022

namorar

Essa coisa de relacionamento é uma coisa grandona. Toma parte do juízo por completo. Se tá desabando, para ter força pra levar tudo junto. Toma um espaço gigante da minha cabeça. E eu tento sempre ir contra. Tento negociar comigo mesma que dá pra se entregar e não ficar com tanto medo. Dá pra viver um amor calmo assim e fica bem. e eu vou me adaptando e me moldando pra caber em situações que em algum momento eu só explodo. Quando vejo já magoei, já ofendi. Algo justifica isso? Talvez não. Mas vejo já tá tudo bagunçado e eu mais ainda. A culpa vem, tudo fica pesado demais. Dormir se torna um pesadelo. Acordar angustiada é ruim demais. O choro na garganta e o peso no peito. Fora os choquinhos de ansiedade durante a noite que me fazem rolar na cama impaciente com qualquer posição. 

Eu não sei quando eu vou poder me sentir confortável dentro de um relacionamento. Tudo parece me sufocar demais, tudo que nem é de fato um problema, mas que me sufoca mesmo assim. 

sexta-feira, 5 de agosto de 2022

perguntas profundas demais que o vetor brasil me fez pensar sobre e só me deu 500 caracteres de espaço para responder

quem é você e qual sua trajetória? Lembre de sua trajetória até chegar aqui, quais são as suas raízes, conquistas e desafios. Nos conte também, quais são suas fortalezas e o que observa que precisa desenvolver. Aqui, não tem certo ou errado, queremos conhecer você e suas trajetórias

eu realmente acredito que sou um conjunto de experiências e que meu processo de autoconhecimento me guia de forma muito intuitiva pelos ciclos da minha vida, sejam eles pessoais ou profissionais. Minha trajetória até este momento, trabalhando numa Secretaria Municipal de Infraestrutura, discutindo políticas públicas com conselhos e órgãos de diversas esferas e aplicando diariamente conceitos de gestão pública no que desenvolvo, mostra que na verdade tudo isso é o fruto do que eu fui cultivando ao longo da minha vida. Acredito que meu interesse pela Arquitetura e Urbanismo começou desde muito pequena quando eu me distraia nas aulas da escola desenhando cidades, pontes, prédios e casinhas. Eu sempre fui muito observadora então na pré-adolescência eu passava horas em sites de construtoras vendo a planta baixa de apartamentos dos prédios aqui pela minha cidade que me encantavam, extremamente curiosa para entender como foram pensadas as divisões e fluxos dentro daquelas torres. 

Esse olhar atento e curiosidade me fez cultivar bastante interesse pela fotografia das casas e espaços públicos do bairro que moro até hoje e também pela escrita, tanto que na época de vestibular eu fiquei em dúvida sobre as graduações de Arquitetura e Urbanismo ou Jornalismo. Acredito que essas duas paixões nunca se separaram, de forma que tive e ainda mantenho alguns blogs e, em 2015, cheguei a criar uma página em uma rede social para postar fotografias sobre o meu bairro e expor minha vivência enquanto moradora deste lugar. A influência desse bairro na minha trajetória foi bastante relevante de tal maneira que, o Bairro São José, acabou se tornando o meu objeto de estudo no Trabalho de Conclusão de Curso que apresentei e que foi muito bem recebido pela banca, na qual fui aprovada com nota máxima. Esse trabalho abordou a escala de bairro e buscou entender o esvaziamento residencial deste bairro, quais os mecanismos impulsionadores desse movimento e, através de diretrizes por meio de políticas públicas apresentei possíveis estratégias para atenuar a saída de moradores. Eu sinto que minha sensibilidade e receptividade com quase tudo que desconheço sejam algumas das minhas grandes fortalezas. Elas me levam a lugares incríveis, de muito aprendizado e  reflexão sobre meu propósito e como isso pode contribuir para a construção de melhores futuros para todos, uma vez que me encanta estudar e entender as cidades nas suas diversas escalas. 

Numa era onde tudo é muito rápido e as demandas parecem ser pra ontem, eu percebo que sou fruto de uma geração que é marcada pela pressa e quantidade de estímulos onde, contraditoriamente, isso pode ser paralisante de tal forma que eu preciso desenvolver a paciência e a escuta ativa a fim de compreender e explicar melhor os processos. Além disso, aprender a lidar com as possíveis frustrações que acontecem em cenários da vida profissional e ter uma comunicação cada vez mais clara e assertiva com minha equipe. 

quais tarefas desafiadoras você já teve que cumprir? Escolha uma situação que te marcou muito e reflita sobre qual era a tarefa, quais ações você tomou, quais foram os resultados e quais aprendizados você extraiu da situação; conhecer você e suas trajetórias;

Assim que fui convocada para o estágio, em janeiro do ano passado, eu fiquei muito feliz e aliviada porque em março de 2020 o escritório de móveis planejados onde eu estagiava precisou me desligar por conta da pandemia e fiquei de quarentena assim como o resto do mundo. Passar quase um ano sem perspectiva do que viria a seguir me fez repensar sobre muita coisa, inclusive sobre minha relação com o trabalho e com a área que escolhi. Em agosto do ano passado eu comecei a vender uma sobremesa que faço muito bem e dessa forma fui me organizando financeiramente, enquanto cursava as disciplinas da faculdade de forma remota. Com a oportunidade do estágio ano passado, eu tive como ganhar mais dinheiro, atuar num órgão público municipal e ainda finalizar a graduação sem precisar me deslocar até a faculdade, porque eu não tenho carro e o campus de Arquitetura e Urbanismo fica em um município chamado Laranjeiras, esse estágio fica no município de São Cristóvão e eu moro na capital Aracaju. 

Pois bem, no meu terceiro mês neste órgão, aprendendo as atribuições do setor e pegando aos poucos a dinâmica dos processos, o então diretor acabou sendo afastado por conta de uma denúncia que foi feita de forma anônima por desvio de conduta, o que causou um grande mal estar na secretaria e uma total desestabilização do setor, fazendo com que atrasássemos diversas demandas e reforçando para a população a falácia de que o setor público "nada faz". Sem um chefe, eu e a equipe precisávamos lidar com demandas complexas e oferecer respostas para população sobre estas situações que foram causadas pelo diretor afastado. A partir daquele momento eu consegui perder um pouco da vergonha de lidar com requerentes nervosos e mediar conflitos, as vezes com alguma ajuda e em outros momentos completamente sozinha. Eu passei a tomar mais a frente de processos e tentar criar alguma organização dentro daquele contexto até a chegada no novo diretor. Com a chegada dele, nossa equipe precisou repassar do zero todo o passo a passo referente às documentações que analisamos e emitimos no setor, explicar a situação e mostrar de que forma a gente estava se posicionando. Eu lembro que ele não estava muito receptivo sobre assumir aquele cargo e eu quis recebê-lo de forma acolhedora e fiz uma sobremesa para a chegada dele setor. 
Hoje o setor continuar exigindo bastante jogo de cintura porque sempre surgem cenários diversos para lidar que explora bastante nossa capacidade de se comunicação com a população, entretanto passar por tudo isso me fez muito forte e confiante sobre meus posicionamentos.  


qual conquista você mais se orgulha? Pense em qual foi sua trajetória até essa conquista. Busque refletir oportunidades de acesso e por que essa conquista é importante;

2018 foi um ano de mudanças significativas para mim. Eu tinha 21 anos e, alguns meses antes do meu aniversário de 22 anos, eu me sentia paralisada mesmo cursando a graduação. Acredito que pela minha criação e contexto de vida, meus pais me ofereceram por muitos anos o suporte financeiro que eu precisei para estar onde estou hoje e, até a época, eles não me pressionavam para eu ir atrás de oportunidades profissionais a fim de conseguir o meu próprio dinheiro, até que eles começaram a ter problemas financeiros. Tudo isso, eu acredito que confluiu para eu analisar e sentir que na verdade eu queria perceber que estava construindo algo mais sólido, tanto para o meu futuro profissional, quanto para minha vida. E foi assim que me inscrevi pro programa de mobilidade acadêmica da Universidade Federal de Minas Gerais e, enquanto aguardava a resposta do programa, comecei a atuar no meu primeiro estágio num escritório particular de arquitetura aqui na minha cidade natal. Eu completei 22 anos em 28 de junho de 2018 e me mudei para Belo Horizonte uma semana depois, com bolsa de auxilio ofertada pelo programa do Santander Universidades, a ajuda financeira dos meus pais e com vários currículos enviados para diversos escritórios da cidade que seria minha casa pelo próximo semestre. 
Eu lembro de ficar extasiada com o centro de Belo Horizonte e de rapidamente criar um vínculo com o bairro que morei, com a Universidade e com um café que existia próximo da minha casa. Morar em uma cidade bem maior, conhecer outras pessoas, ter outras vivências e ainda ter a oportunidade de cursar disciplinas numa das melhores universidades do Brasil parecia completar e sanar aquele estranhamento da paralisia de meses atrás, mas olha, não foi suficiente. Eu ainda sentia que faltava algo que me fizesse sentir que era eu que estava fazendo escolhas por mim mesma, que estava caminhando com as próprias pernas. Esse estranhamento me perseguia até que numa das visitas ao café perto de casa eu perguntei as baristas se tinha algo que eu pudesse fazer por lá, que meus horários na universidade me permitiam ter bastante tempo livre durante o dia e que eu queria ocupar com algo. As baristas me pediram para aparecer no dia seguinte e foi assim que consegui o meu primeiro emprego e essa atitude me ensinou demais sobre minha intuição. Trabalhei como barista enquanto cursava arquitetura na universidade e, na época, eu senti que finalmente eu estava equilibrando os pratinhos que queria. 
Eu consegui sair completamente da minha zona de conforto, me coloquei em situações de desafio e consegui passar por todas elas, morando longe de casa, longe de amigos, com elevada carga horária de trabalho e estudo e ainda tendo que cuidar de tarefas de casa e cozinhar pra mim. Sou muito grata por essa oportunidade e por todos que me auxiliaram a concluir essa fase, pois aquela época foi de completa transformação e reconhecimento sobre minha autonomia, minha força e capacidade de resiliência.  

o que te motiva a trabalhar no setor público? Como você acredita que o vetor brasil e nossos programas dialogam com o seu momento de vida e motivações futuras?

Eu realmente acredito no poder transformador das políticas públicas quando bem aplicadas. Acredito que boas gestões, gestões mais inclusivas, mais circulares, mais construtivas e mais pacificas têm o poder de transformar nossa sociedade e nossas cidades. O Brasil é um país com muitas demandas dos mais diversos tipos, é um país com muita desigualdade e que passa por uma fase difícil, eu poderia até dizer desestruturante no sentido de governança, mas que isso não define as gestões municipais brasileiras como um todo. A gestão da secretaria onde estou atualmente tem dado muita abertura para o diálogo com diversas frentes e um bom líder realmente consegue abordar o propósito como elemento chave para a produtividade da sua equipe. É isso que tenho visto e que me dá muita esperança, sinto que o Vetor Brasil conseguiria expandir ainda mais essa minha energia, me capacitaria e me ajudaria a desenvolver ainda mais habilidades para o desempenho do meu trabalho, me dando oportunidade de ter contato com outras frentes da gestão pública.