segunda-feira, 2 de julho de 2018

1 ano

Manhã,
A luz passa por entre as cicatrizes do papel contact preto da minha janela, entra na fresta mínima das minhas pálpebras e me acorda.
A primeira coisa que eu vejo é ela, deitada, como em uma cama king size de um hotel cinco estrelas.
Perna entre perna, braço sobre dorso e mão na mão.
É o aperto, o calor, a simplicidade, o aconchego e até os cheiros. Tudo parece tão certo, o tempo, o espaço e o ser.
Volto a dormir.
Acordo mais umas 3 ou 4 vezes, vislumbrando uma cena diferente para cada vez.
A primeira é ela sempre em cima de mim, tentando me acordar aos beijos. Jess (ah, esse é o apelido dela) nem sabe,  mas esse é um dos melhores momentos, porém eu sou preguiçoso demais pela manhã e não revido (ao menos naquele instante) a surra de beijos.
As outras cenas são ela escovando os dentes ou vendo alguma série no computador, não necessariamente nessa ordem.

Tarde,
Quando eu finalmente acordo, lento e ainda cansado, procuro minha carteira de cigarros e acendo o primeiro. Vou até a sala, que é provavelmente onde Jessica está. Quando a vejo ali, de pijamas, sorridente por eu ter acordado, bate um arrependimento de o cigarro ter sido a primeira coisa que eu procurei ao acordar.
Vou ao seu encontro no sofá para finalmente revidar a surra de beijos de mais cedo.
“Eu tenho show hoje de noite, tá?”
“Tá bom, mas eu posso ficar aqui?”
“Claro”
Jess e eu namoramos há mais ou menos um ano, então é muito comum pra ela dias em que eu saio pra tocar e acabo voltando muito tarde da noite.
“Podemos fazer algo agora de tarde”

Geralmente vamos almoçar no restaurante perto da padaria da minha rua, que tem uma comida boa e barata. Às vezes, paramos na sorveteria que só possui deficientes auditivos como funcionários para a sobremesa (dela, eu não como sorvete).
No restante das horas vespertinas, vemos alguma série que ela está interessada ou algum filme que eu queira ver e passeamos com minha cadela, Marceline.

Entre essas atividades, fazemos algo que não precisa ser mencionado aqui.

Noite,
Começa a bater o arrependimento por ter aceitado tocar no mesmo lugar, tocando as mesmas musicas pelo cache, mas vida de músico é assim mesmo e eu preciso aceitar.
Deixo de viver meus fins de semana muitas vezes pelas Gigs. Sair com Jess, meus amigos, etc.

Lembro que ela ficou muito feliz de ter ido no primeiro show dela comigo no palco. Eu fazia de tudo pra impressioná-la lá em cima, e ela babando (eu acho) embaixo.
Nessa época ainda nem sabíamos se iríamos namorar, e tal. Eu era (sou) um garoto muito inseguro e coloco supostos problemas futuros na frente de qualquer coisa na minha vida. Quando eu consegui enxergar essa falha no meu modo de agir, eu estava bêbado, rs.
Estávamos numa calourada de relações internacionais quando minha ficha caiu em relação a Jess. Não fazia sentido não ficar com aquela pessoa, que quando saía do recinto, eu já sentia saudades. Pedi ela em namoro ali mesmo, na véspera do seu aniversário.

Enfim, continuando...

Vou ao show, toco e bebo, como sempre. Fico jogando conversa fora até minha carona decidir ir embora.
Chego em casa com a maior preguiça de subir as coisas no elevador. Abrir a porta de casa segurando um monte de bugigangas nos braços, deixar tudo na sala, ir ao meu quarto e encontrá-la.
Jess deitada, como em uma cama king size de um hotel 5 estrelas.
“Oi amor, tava com saudade”
Agora sim meu cache está pago e eu vou dormir em paz.

Isso é um dia comum de um dos 365 dias que passamos juntos.
Não é sobre troca de presentes caros, e sim sobre troca de verdades.
Amo muito Jess.

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